No campo das terapias, como em outras áreas do conhecimento, as abordagens são várias e muito distintas, com diferentes enfoques. Não nascem todas de uma vez, nem de uma vez por todas.

De minha parte, entendo que o melhor é conjugar “Hardware” e “Software” no endereçamento da escuta, contemplando as significações mentais pela forma e substância.

O “eu” é antes de tudo um “eu-corporal”, resultado de uma interação complexa de fatores fisiológicos, psíquicos e ambientais.

“Referencial biopsicossocial” e orientação psicanalítica.

Em perspectiva crítica, problematiza-se a tradição de pensamento que se desdobra do Iluminismo [método cartesiano], com a ascensão de um cientificismo positivista [busca da verdade por validação experimental] e a fragmentação de conteúdos em disciplinas curriculares descasadas [redução do todo às partes], a ponto de se perder o sentido de totalidade.

Por outro lado, uma concepção ampliada de sujeito [coerente com a unidade que é o indivíduo] confere com a leitura da OMS [a Organização Mundial da Saúde], pelo menos desde a “Declaração de Alma-Ata” de 1978 [Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde], apesar da tendência moderna de superespecialização [a cair por terra o humano do humano].

Assim, o “corpo-pessoa” [em oposição ao “corpo-objeto” da racionalidade biomédica] articula essas diferentes dimensões, para além do dogmatismo usual das tecnologias medicalizantes [com protocolos universais e ideal de normalidade distante], à mercê de doenças ou lesões orgânicas.

É dizer, com a inclusão do registro corpóreo [relevante ao fazer terapêutico do sujeito encarnado], embora sem circunscrição ao organismo e atenção aos processos de socialização, as várias camadas de saberes se sobrepõem [“bottom-up” e “top-down”], prestigiando um adequado acolhimento do agente [biologicamente cultural], em busca de um dispositivo de cuidado.

E por que a Psicanálise? Pela fala: somos seres falantes. Porque avanço científico nenhum [por bem-vindo que seja] dá conta de agasalhar as dilacerações da alma. Desde ali, não se alcança o que nos habita. A disponibilidade de cartógrafos e mapas não reflete a experiência da navegação. Há, em geral, conflitos de toda sorte: angústias, hesitações, acidentes de percurso, camadas encobertas, inconfessáveis […]. Tudo em conta, as palavras [com linhas e entrelinhas] podem ser uma consistente solução medicamentosa.

Inclusive, a presença humana é sempre uma presença expressiva, mesmo quando silenciosa. O corpo também fala: não a fala da inteligência, a fala da gestualidade, a linguagem das paixões, das sensibilidades […].

De toda maneira, se bem que os critérios possam variar [cada qual com quem lhe aprouver], independente de abordagem teórica, o paciente escolhe mesmo o terapeuta [ou analista]. A relação é mais importante do que a técnica.